Prefácio do livro REFLEXÕES (PROVOCAÇÕES?), EM PROSA E VERSO
Este livro tem como matéria-prima as minhas vivências e reflexões, o que exige do leitor algum cuidado, pois uma pessoa que se dispõe a falar de si mesma deve ser colocada sob suspeita.
Quando visitamos monumentos históricos, museus, cidades, costumamos contratar os serviços de um guia o que, no meu entender, pode resultar em maior conhecimento e compreensão do que vemos. Há, no entanto, o perigo de, levados pela percepção padronizada do guia, vermos de maneira limitada aquilo que se nos apresenta.
Algumas informações sobre a vida do autor, apresentadas a seguir, como guia para a leitura, podem ajudá-lo a compreender melhor algumas reflexões, mas, assim como a contratação de um guia, também podem levá-lo a equívocos. Um bom leitor deve estar sempre atento e, em caso de dúvida, é melhor que acredite em si mesmo.
Tenho 66 anos de idade e, por questões de saúde e querendo viver um pouco mais, ainda que sem grandes motivos para isso, preciso restringir o açúcar, o sal, o álcool, o que torna a vida bastante insossa. Decorre daí, acredito, o fato de os meus escritos, com muita frequência, apresentarem uma visão não muito otimista do mundo.
Nasci no interior de Minas (interior do interior) e fui criado, como se dizia antigamente, na religião católica; acredito em assombrações e tenho um medo danado do inferno. Alguém,
portanto, que, embora esteja sempre lendo e pensando, viveu poucas experiências inusitadas e que fala sobre as coisas da vida mais de ouvir dizer. Adquiri alguma liberdade no pensar, mas o que vivi e vivo não serve de estímulo para quem pretende tornar-se singular.
Essa dicotomia entre a liberdade para pensar e a rigidez na ação se manifesta em mim em forma de ironia. Só tive consciência dessa ironia, quando um amigo me disse que, na maioria das vezes, nunca sabia se o que eu estava dizendo deveria ser levado a sério ou não. Nesse dia, fiquei espantado com a facilidade com que a maioria das pessoas acredita em tudo aquilo que ouve ou lê e adquiri um certo gosto pela mentira. Os fatos não precisam acontecer, podem ser criados. A verdade não é necessária; a verossimilhança é suficiente.
As citações que iniciam os relatos e as reflexões, embora tendo sido escolhidas por mim, nem sempre representam o que penso sobre o assunto. É mais uma contradição entre tantas que o caro leitor, provavelmente, encontrará neste livro. A vida é assim, sem lógica, cheia de contradições e, por isso, não lhe peço desculpas.
Sou melhor leitor do que escritor e corro o risco de os leitores se contentarem com as epígrafes que, na minha opinião, dariam conta do objetivo principal deste livro, que é fazer pensar. Escolhi, com cuidado, cada citação, pois ser considerado inferior a um Millôr ou a um Carlos Drummond de Andrade, a um Platão ou a um Nietzsche não é demérito para ninguém. Melhor bem acompanhado do que sozinho.
Minha maior qualidade não é a sinceridade, mas a lucidez que tenho em relação ao que nunca chegarei a ser. Jamais serei um Fernando Pessoa, principalmente por falta de talento, ou um Charles Bukowski, porque me falta coragem para viver intensamente, ou um Kant, por ausência de disciplina, ou uma Madre Teresa de Calcutá, por absoluta falta de fé.
Desde muito cedo, sabia que jamais seria campeão de qualquer coisa, porque nunca me senti disposto a me dedicar inteiramente a qualquer esporte ou atividade. Não tenho a menor admiração por aqueles que gastam seis ou mais horas por dia numa piscina, numa quadra, numa pista, num piano, massacrando o próprio corpo numa rotina de treinamentos e de sacrifícios. O olhar do outro, eu soube desde cedo, jamais me levaria muito longe.
Sei que me falta tudo aquilo que torna uma vida singular: alento, coragem, determinação, disciplina, fé. No entanto, a vaidade, que tenho de sobra, leva-me a publicar este livro. Talvez, alguns amigos e um ou outro familiar o leiam até o fim.
Espero, sem muita convicção, que alguém, em algum momento, possa considerar-me um escritor. Essa tênue esperança se fundamenta, principalmente, no fato de haver enorme quantidade de bobagens impressas, algumas, inclusive, dando a seus autores prestígio e dinheiro. Torço para que o mesmo aconteça comigo.
O autor