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A Mágica do Dr. Yvon


Neste momento de tanto ruído vindo do lado da política e de tanto desalento na economia, o aparecimento desse livro é uma brisa. Quando nada, ele mostra que vivemos em um país cheio de surpresas boas.

Que mágica é essa e quem é esse tal de Yvon?

Voltemos às Minas Gerais da década de 50. Os seus cursos clássicos - como Direito, Medicina e Engenharia - eram mais do que respeitáveis comparando-os aos padrões nacionais. E as áreas novas e turvas, como Administração, Sociologia e Economia, como eram? Na melhor das hipóteses, isso tudo era ciência de roça. Nem um só professor havia estudado fora do Estado, em contraste com as eminências do Rio de Janeiro e São Paulo.

No entanto, em meados dos anos 60, os cursos de Economia e Sociologia da capital mineira se transformaram nos melhores do Brasil, avaliação medida pelas taxas de acesso à nascente pós-graduação.

Essa foi a mágica. O mágico, o Professor Yvon Leite de Magalhães Pinto. Sua feitiçaria consistiu em tomar três providências, ao assumir a direção da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), na UFMG. Em primeiro lugar, criou espaço físico na nova sede para receber os jovens professores com mais promessas, contratados por ele para se dedicarem à Faculdade em tempo integral. Em segundo, montou uma biblioteca que exibia praticamente tudo que o mundo oferecia em economia, ciência política e sociologia. Em terceiro, passou a selecionar, a cada ano, para serem bolsistas, os melhores alunos que ali ingressavam. Os bolsistas também tinham que se dedicar em tempo integral. Eles tinham seus próprios escritórios na Faculdade e recebiam como bolsa, o valor aproximado de um salário mínimo. Feito isso, Dr Yvon orquestrou, com competência e rigor, o crescimento desta plantinha, inicialmente muito frágil.

Entre os jovens professores e os alunos, criou-se uma sinergia tão poderosa que certos alunos da Engenharia e da Medicina abandonaram seus cursos para participar daquele caldo de cultura em plena ebulição na Face. Os conhecimentos estavam na biblioteca, era preciso apenas batear os clássicos, citados nos rodapés dos livros-texto. Havia, ali, um autodidatismo desenfreado, porém inspirado pelos clássicos da literatura mundial.

Duas décadas depois do início do programa de bolsas, a grande maioria dos bolsistas da Face tiveram êxito nos concursos dos primeiros programas de pós-

-graduação da Fundação Getúlio Vargas e do Chile. Do grupo de duzentos e poucos bolsistas da época, quatro se tornaram ministros de Estado. Desse grupo saíaram ainda secretários estaduais, a equipe do BDMG e acadêmicos pesquisadores que até hoje estão dentre os grandes protagonistas da ciência política e da economia, no Brasil.

Como resultado de tudo isso, em vez de receber homenagens em praça pública, o Dr. Yvon foi vítima de um movimento poderoso que o faz apear da direção da Faculdade. Felizmente, tardou um pouco, mas se fez justiça ao seu mérito. Não em praça, mas ele foi homenageado com nome de rua em Belo Horizonte e como nome do novo prédio da Faculdade.

O autor do livro, Claudio de Moura Castro, ao tornar-se diretor geral da Capes, impressionado com o poder transformador das ideias do Dr. Yvon, criou um programa semelhante: o PET. Hoje, com mais de treze mil alunos, o PET é responsável pelo avanço de inúmeros programas, em muitas áreas do conhecimento, pelo Brasil afora.

Eis a mágica do Dr. Yvon.


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