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Simplicidade poética


Simplicidade poética

Durante um bom tempo, eu viajei por este País visitando escolas, conversando com alunos, pais, professores e técnicos educacionais. Em algumas dessas ocasiões, fui companheiro de viagem e participei de eventos com Madresilva Magalhães.

As longas conversas sobre educação, em diferentes aeroportos do Brasil e recepções de hotéis, deram-me a certeza de que estava diante de alguém muito especial, com um magnetismo pessoal impressionante, capaz de falar com simplicidade e de ouvir com a atenção própria daqueles que buscam compreender os mistérios da vida. Eu não tive dúvidas e, certa vez, disse-lhe que ela era uma das poucas pessoas de quem eu tinha certeza de que seria amigo pelo resto de minha vida.

Quantas vezes, ao assistir às palestras da Madresilva, fui tomado pelas lágrimas ao perceber a abordagem simples, poética e, ao mesmo tempo, profunda, prática, que ela imprimia aos temas tratados. Era como se eu e os outros ouvintes estivéssemos na sala de nossas casas, com uma pessoa muito especial, conversando com um amigo mais experiente, conhecedor do que falava, mas sem arrogância, com muita ternura e extremamente acolhedora.

O sucesso de Madresilva como palestrante pode ser comprovado por milhares de pessoas que tiveram a oportunidade de ouvi-la em todas as regiões deste país. Sei, no entanto, que ser escritor é diferente de ser palestrante. Há bons escritores que são incapazes de proferir uma palestra, e há palestrantes incapazes de produzir uma página escrita.

Educandário foi para mim uma grata surpresa. Madresilva escreve com o mesmo encanto com que fala. A começar pelo título e pela estrutura, o livro traz à tona toda a criatividade e senso prático dessa educadora exemplar. Se mostra a importância de sonhar, também enfatiza a necessidade da ação planejada; se mostra a importância de comemorar algumas datas, também evidencia a necessidade de fazer isso criticamente; não se contenta apenas em mostrar as mazelas da educação, mas indica caminhos que podem melhorar nosso trabalho como educadores. A autora trata, com delicadeza e segurança, de temas polêmicos, sem se furtar a enunciar seus pontos de vista, sempre fundamentados em sua prática como educadora.

Para cada mês do ano, a sensibilidade da autora nos propõe reflexões e nos aponta novos caminhos. Embora me pareça desnecessário, quero chamar a atenção para a descrição que se faz, em Abril, da Semana Santa. Para se ter uma ideia da beleza com que Madresilva fala desse momento, transformado por muitos em apenas alguns dias de folga, cito o trecho a seguir.

Mas é no domingo da ressurreição que devemos reinventar a vida. Muito mais do que no réveillon, é na Páscoa que vamos nos lambuzar de esperança, de sonhos e de novos projetos – só para lembrarmos que estamos vivos, que podemos renascer das cinzas. Então, cantemos com Gonzaguinha: “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz...

Vamos nos lambuzar de esperança... Esse é um belíssimo convite para aqueles, tão numerosos em nossos dias, que se veem cercados de incertezas, de dúvidas, de desilusões...

Em outubro, coloca-se poeticamente, em poucas palavras, um caminho para os que pretendem fazer do magistério uma razão para viver.

O professor que deixará saudades hoje é aquele que conquista o respeito de seus alunos pela sua competência. O professor que deixará saudades hoje é aquele que tem uma relação de proximidade e compromisso com sua turma. O professor que deixará saudades hoje é aquele que se preocupa com a aprendizagem de seus alunos. O professor que deixará saudades hoje é aquele que se envolve e se articula em diferentes saberes. O professor que deixará saudades hoje é bem humorado, divertido e gosta de ensinar. O professor que deixará saudades hoje é aquele que apoia, estimula e incentiva seus alunos a correrem atrás de seus sonhos...

Educandário é um presente distribuído no tempo que, como afirma Madresilva, é vida. É um presente para ser desembrulhado devagar, pouco a pouco. Se esse ritmo é difícil para você, tão acostumado à correria de nossos dias, não tem importância. Abra-o de uma vez, mas depois volte a cada uma de suas partes. Cada uma de suas páginas guarda a possibilidade de nos fazer tomar novos caminhos...

Quero terminar com o sentimento que acredito tomará conta de todos que se dispuserem a ler este livro: obrigado, Madresilva!

Pedro Faria Borges


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